Comandante diz que até as garrafas de água tinha de pagar quando voava para a Ryanair
- EXPRESSO
- 21 de set. de 2017
- 2 min de leitura
Num artigo publicado no “The Guardian”, um ex-piloto da empresa sustenta que o verdadeiro problema por trás do cancelamento de centenas de voos é que a companhia low cost irlandesa trata tão mal os seus pilotos que não há hipóteses de substituí-los
A menos que a Ryanair trate melhor pilotos como eu, esta crise vai ser longa”, é o título de um artigo de opinião, publicado esta quarta-feira no “The Guardian”, assinado pelo comandante James Atkinson. No texto, descreve aquilo que diz ser a verdadeira causa do cancelamento de centenas de voos nas últimas semanas da companhia low cost irlandesa.
Atkinson foi comandante na Ryanair entre 2006 e 2014 e diz que o que está a acontecer não o surpreende, tendo em conta aquilo que testemunhou durante esses oito anos, antes de ter saído para ir trabalhar para uma companhia chinesa.
“O diretor da companhia, Michael O'Leary, insulta abertamente os seus pilotos e tem mantido uma política de destruir qualquer tentativa de obtenção de negociação contratual coletiva. A estratégia de controle da Ryanair é baseada na muito velha tática dividir para reinar, mantendo contratos e mesmo formas de trabalho diversas entre o pessoal com o mesmo trabalho”, escreve o comandante.
Referindo que “fadiga de voar para a Ryanair é muito real”, explica que, enquanto lá trabalhou, era regulamente enviado para fora da sua base para voar durante os seus dias de folga e sem pagamento extra, sendo obrigado a apanhar voos de ligação que por vezes o obrigavam a pernoitar em hotéis, tendo de pagar essa despesa, para depois ter pela frente uma carregada escala de voos de cinco dias consecutivos. No verão era costume ter depois três dias de folga, antes de dar inicio a mais uma sequência de trabalho similar. Algo que recorda como “uma experiência destruidora da alma”.
Atkinson frisa que para muitos as condições ainda são piores, pois a maioria dos pilotos são subcontratados: “Eles são obrigados a assinar contratos com uma das poucas agências que fornecem serviços de pilotos exclusivamente para a Ryanair, e estes contratos são escritos como propostas de pegar ou largar, sem direito a qualquer tipo de negociação”.
As condições que descreve vão ao ponto de a tripulação não ter sequer direito a uma garrafa de água durante as horas de trabalho. “Se queres, tens de a comprar”, explica.
“Hordas de pilotos saem da Ryanair enquanto ainda são novos, aceitando ofertas dos Emirados Árabes Unidos ou da China, ou ficando na Europa se tiveram sorte. Eu fui para a China, onde regulamente recebo chamadas de velhos colegas da Ryanair procurando saber como se podem candidatar”, relata.
Tendo tudo isso em conta, diz não se espantar com a estimativa que mais de 700 pilotos tenham saído da companhia no último ano financeiro e considera que o cancelamento de voos se deve simplesmente ao facto de que a “companhia não consegue substituir pilotos ao ritmo que eles saem”.
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