MARIA GERVÁSIO, SonAir “As mulheres, mesmo no ar, são mais meticulosas!”
- Sonangol E.P
- 19 de jul. de 2017
- 3 min de leitura

Maria Gervásio não esconde a timidez ao enfrentar a câmara fotográfica. Esta piloto, da SonAir, poucas vezes se dá a conhecer e são tantos os que, inconscientemente, lhe depositam o destino nas suas mãos. Mas é ela que conduz, com a sua capacidade, conhecimento, frieza e sangue frio, em total segurança, milhares de passageiros que já foram transportados pelo Boeing 737-700 com as cores vermelha e amarela da subsidiária de aviação do grupo Sonangol.
Ainda são poucas as mulheres que pilotam aviões deste porte. Tudo é, afinal, uma questão de oportunidade. “Há ainda muitos tabus em Angola, e em África, sobre aquilo que as mulheres podem fazer em termos profissionais. Muitos ainda pretendem fechar certas profissões às mulheres alegando que elas têm outros compromissos com a casa, com os filhos, com o marido… Isso tem de acabar” diz Maria Gervásio, convicta de que é um dos bons exemplos para a emancipação das mulheres no país.
MULHERES SÃO PILOTOS MUITO FIÁVEIS
Hoje é frequente vê-la com a farda de co-piloto no “cockpit” de um Boeing 737-700, da SonAir. E são as mulheres tão boas a pilotar como os homens?... “Na maior parte são melhores!” responde prontamente, com uma gargalhada pelo meio, que salienta, contudo, que foi sempre muito bem tratada pelos seus colegas do sexo masculino. Mas… “As mulheres têm aquele sexto sentido e no ar isso não se perde. A pilotar somos mais directas, mais meticulosas, mais tranquilas porque o nosso dia a dia de casa, filhos e maridos ajuda-nos a saber ultrapassar todos os problemas que surgem” conclui com um sorriso malicioso.
Casada, com dois filhos, Maria Gervásio ingressou na SonAir em 2003 concretizando um sonho de menina – pilotar aviões! “O que eu sempre desejei foi ser piloto de aviões de guerra! Aqueles filmes como o “Pearl Harbor” ou o “Top Gun” sempre me fascinaram. Eu olhava para aquilo e dizia para mim mesma: é isto que eu quero!”
Mas acabou por ir parar à aviação civil e comercial. Investiu num curso e depois viu a Sonangol reconhecer o seu potencial o que lhe permitiu completar os cursos de piloto de linha aérea e comercial.
Aos comandos do 737-770 sente-se realizada mas não é raro vê-la a olhar com admiração para os espectaculares Boeing 777-300 da TAAG, estacionados bem perto, na placa do aeroporto 4 de Fevereiro. “Gostava de pilotar um avião desses, claro!” E um Airbus A 380? “Já não me atrai tanto. Nós, pilotos, em relação aos aviões somos um pouco como os adeptos de futebol que gostam mais de um clube do que de outro. Eu gosto mais dos Boeing porque ainda deixam uma pequena margem para os pilotos terem intervenção. Os Airbus são todos automatizados…”
A FORMAÇÃO PARA PILOTO É MUITO CARA
Maria Gervásio lamenta que não surjam muitas outras mulheres a pilotar aviões de grande porte em Angola mas hoje isso deve-se sobretudo ao custo da formação. “A maior parte das angolanas não tem possibilidades económicas e financeiras para pagar a formação inicial na aviação. E, por isso, somos poucas”, diz, conformada.
Das muitas horas de voo guarda experiências inesquecíveis como “aterrar ao fim do dia numa província angolana, sem luz e sem visibilidade, e quando ainda não havia as ajudas electrónicas que estão hoje disponíveis em quase todos os aeroportos! Foi muito intenso…” recorda.
Ao longo dos anos viu, de forma privilegiada, a enorme transformação que se operou em Angola, com as cidades a crescerem e as infra-estruturas a solidificarem um país que parece ainda mais belo visto de cima. “Se há coisa que me dá prazer é aterrar no aeroporto da Catumbela! A aproximação à pista é fantástica, a passagem pelo rio Catumbela, o mar ali ao nosso lado, a estrada sempre cheia de movimento do outro, as pessoas… Angola é mesmo linda!”
Comments